A Geração dos “Sem” a Quinhentos Euros
14 de Novembro, 2007Eu sou daqueles que consideram – analise-se por que prisma se quiser – que Portugal tem hoje, sem dúvida, a geração mais qualificada que porventura já teve (se tivermos em linha de conta a percentagem de jovens licenciados nas mais diversas áreas do saber). |
Mas esta é também uma geração cada vez mais dependente (nomeadamente do apoio dos pais, também eles, na sua grande maioria, em dificuldades), sem perspectivas e condições para poder enfrentar o mercado da habitação, para conquistar a sua independência e autonomia, em consequência duma a precarização sistemática e cada vez maior dos vínculos laborais.
É uma geração cujo presente inseguro só pode assegurar-lhe um futuro ainda mais incerto.
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A contracção da economia e das contratações da administração pública, está a empurrar cada vez mais jovens para o desemprego (neste segmento anda perto dos 20%) ou para o trabalho temporário (52% da mão-de-obra até aos 24 anos). As poucas oportunidades de emprego que vão surgindo são em call centers, centros comerciais, hotelaria e restauração.
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Muitos já passaram há muito os 20 anos, estão na casa dos 30 e à beira dos 40.
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O cenário que se lhes apresenta é passarem por jovens, menos jovens e, por fim, já velhos, sempre descartáveis toda uma vida.
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A propensão liberalizadora do mercado é notória nos dados relativos ao emprego. Os trabalhadores abrangidos por contratos a termo e em regime de trabalho temporário anda na casa dos 22%, quando na Zona Euro é de 16%.
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Muitos têm licenciaturas e mestrados, saltam de emprego em emprego, muitas vezes de acordo com a conveniência das Empresas de Trabalho Temporário (que retiram para si parte do que deveria ser salário) ou de outras modalidades da precariedade juvenil, recibos verdes, estágios e mais estágios (muitos não remunerados), bolsas e contratos a prazo. A história vai-se repetindo mês após mês, ano após ano.
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Estão desencantados com a classe política, sentem-se desconsiderados, desperdiçados, desanimados relativamente às perspectivas de futuro.
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A prosseguir este caminho, Portugal pagará bem caro este rumo.
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Quantos jovens desta geração não terão condições necessárias para construir uma vida com um mínimo de estabilidade e compromisso? Qual o custo socioeconómico a pagar pelo envelhecimento da sociedade que resultará destas gerações sem filhos? Quem manterá e assegurará a viabilidade financeira da Segurança Social no futuro?
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Enquanto isso, nós os pais, vamos assistindo no nosso casulo (comparticipando do nosso magro orçamento) aos variados atropelos e abusos dirigidos aos nossos filhos e desenvolvidos directa e indirectamente por uma classe confortavelmente instalada que pratica uma série de imoralidades sociais, oferece uma vida de mordomias e plena de oportunidades aos seus ou das suas corporações, e a continuar a achar que isso é normal, que faz parte do quotidiano, que tem de ser assim, que não há outras soluções.
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Mudar este panorama passa por uma reestruturação do modo de participação dos jovens e menos jovens (da Sociedade Civil).
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Talvez, nunca como hoje, a necessária e urgente utilização das capacidades e da criatividade tenha assumido tanta importância.
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