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Exemplo sueco: Os segredos da cidade perfeita

27 de Maio, 2008

O modelo sueco de cidade sustentável pode aplicar-se em Portugal. Mas faltam projectos.

Um bairro onde tudo se aproveita e quase nada se perde, em que os residentes usam metade da energia de um bairro convencional, consomem apenas 100 litros de água por dia (menos 30% que em Portugal), produzem menos lixo, vivem em casas construídas com materiais ecológicos, deslocam-se em veículos amigos do ambiente e preferem andar a pé ou de bicicleta.

O cenário parece improvável, mas existe, mesmo no centro de Estocolmo – o ecobairro de Hammarby Sjöstad nasceu da recuperação de uma antiga zona industrial, um projecto idêntico ao do Parque das Nações. Até 2015, albergará mais de 25 mil pessoas em 11 mil residências. A jóia ambiental da Escandinávia está na moda e é cobiçada sobretudo por jovens casais em início de vida. Os recém-proprietários recebem um “kit” explicativo do processo de separação dos lixos, são incentivados a usar os transportes públicos e a deixar o carro à porta de casa. Um quotidiano dominado pelo conceito de “simbiocity” (simbiocidade) que consiste num plano integrado de gestão da energia, do lixo e da água. A cidade ou bairro depende das energias alternativas (eólica, solar e eléctrica), mas não só. O lixo doméstico é separado, uma parte irá assegurar o fornecimento de electricidade e os sistemas de aquecimento e arrefecimento urbanos, o restante é reciclado e transformado em fertilizante agrícola. A água da chuva, armazenada e conduzida até à central de tratamento (a par com os desperdícios sanitários), servirá para produzir biogás para os veículos em circulação na metrópole.

O sucesso desta comunidade perfeita ditou a expansão do conceito além-fronteiras. China, Índia, Canadá e África do Sul adoptaram-no. Em Portugal, não existem projectos desta dimensão. Porquê? O Expresso tentou obter resposta a esta pergunta junto da Agência Portuguesa para o Ambiente, mas tal não foi possível em tempo útil. Já Francisco Ferreira, da Quercus, refere que “é necessária uma governação a longo prazo, com políticas locais e nacionais” que estimulem a aplicação de planos integrados de sustentabilidade. Os custos de instalação de uma cidade deste tipo no nosso país dependem de uma série de factores – a dimensão da área intervencionada, o grau de degradação e o tipo de edifícios, as infra-estruturas de distribuição de água, etc. É preciso ter em conta que o retorno do investimento deve ser encarado a longo prazo, “no mínimo uma década”.

Mesmo não dispondo de projectos idênticos ao modelo sueco, alguns municípios começam a dar os primeiros passos na luta contra o desperdício. É disso exemplo o eco-bairro do Barreiro: as 253 residências vão poupar 70% da energia gasta noutras casas da região. Está ainda prevista a instalação de um sistema de recolha de águas pluviais para rega e iluminação pública fotovoltaica. No Parque das Nações foi instalado o sistema sueco de recolha de resíduos domésticos (Envac), uma rede subterrânea responsável pela gestão de seis mil toneladas de lixo por ano. Norberto Vicente, da Envac, assegura que a autarquia “poupa 40% com o sistema automático quando comparado com o tradicional”, apesar dos custos de instalação rondarem os 1500 euros por residência. Dois camiões recolhem diariamente o lixo, que é armazenado em três centrais. A empresa prevê instalar estruturas idênticas em Vilamoura (Algarve) e nos bairros lisboetas de Alfama e Bairro Alto.

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Contentores em que o lixo é removido através dum tubo subterrâneo,
por um camião, na estrada principal

 


A água da chuva é colectada para o canal na frente dos edifícios


Luz reflexiva

Painéis solares no telhado dos edifícios


Espaços e campos de jogos facilmente acessíveis e cercados por vegetação


Transportes públicos integrados e diversificados

in Expresso via Inovação & Inclusão

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