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Há que atacar as verdadeiras causas

2 de Março, 2007

Atenção, muita atenção, talvez muitos não se dêem conta, mas estamos a assistir a um novo pico de saídas de Portugueses (muitos com formação superior) para o estrangeiro.
Coruche espelha bem essa situação. Casos há de pessoas que emigraram enquanto mais jovens e que julgavam já não ter necessidade de o voltar a fazer, mas agora vêem-se forçados a fazê-lo novamente.

Tenho 51 anos de idade, 33 dos quais vividos com uma participação cívica muito intensa, pós 25 de Abril de 1974. Faço este enquadramento para dizer ao leitor que começo a duvidar seriamente de que a minha geração (que coincide com a de muitos políticos no activo) consiga cumprir os objectivos que se impõem a um efectivo desenvolvimento sustentado do país, se não se adoptarem estratégias de acordo com os novos desafios e oportunidades, sustentadas numa clara visão de futuro.

Em resultado do Conselho Europeu de Lisboa de 2000, a União Europeia (então dos 15) definiu, como objectivo estratégico para 2010, «tornar-se a economia baseada no conhecimento mais dinâmica e competitiva do mundo, capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos, e com maior coesão social e respeito pelo ambiente».

Decorridos 7 anos, o balanço para Portugal não é muito animador.
Enquanto jovem, vi muitos amigos meus terem necessidade de emigrar na procura de melhores oportunidades que o país não lhes conseguiu dar.

Com o decorrer dos anos, houve pequenos períodos em que quase me convenci de que este fenómeno estava a abrandar (talvez pelo efeito da chegada dos fundos comunitários), mas na realidade não abrandou.

A procura dos destinos tradicionais – França, Luxemburgo, Suíça e seus vizinhos continua a verificar-se, mas não só. Actualmente, há milhares de portugueses na agricultura em Espanha, a criar perus em Inglaterra, galinhas na Irlanda e uma nova vaga a preferir Angola. Há também o elevado número de trabalhadores que semanalmente se deslocam em carrinhas para trabalhar na construção civil em Espanha e que não contam para as estatísticas.

Segundo um estudo recente do Instituto Nacional de Estatística, a lista dos países procurados pelos portugueses é liderada pela Espanha, seguindo-se o Reino Unido e Angola.

Houve momentos em quase fui levado a acreditar que os que partiam eram em grande parte os que tinham poucas habilitações (maioritariamente, mão-de-obra pouco qualificada).

Mas afinal muitos dos que continuam a partir têm cursos superiores e outros mesmo procuram lá o tal diploma.

Dos jovens portugueses que se formam em algumas das melhores universidades dos Estados Unidos da América, estima-se que regressam ao país, após a conclusão do curso, apenas entre 10 e 20%.

De acordo um relatório do Banco Mundial (BM), um quinto dos portugueses com ensino superior não trabalha no país.

Portugal é mesmo o país europeu de média/grande dimensão mais afectado pela saída de licenciados e quadros técnicos. Na lista dos estados com mais de cinco milhões de habitantes, Portugal é o 21º com a mais elevada percentagem de licenciados a residir fora do país.

Convém salientar que, se Portugal está a perder licenciados e quadros qualificados para países estrangeiros, concelhos como o de Coruche perdem ainda, ao nível do país, na “luta” interior/litoral. Em muitos casos, perde população jovem, ainda enquanto estudante, logo após o 9º ano, por uma manifesta ausência de percursos escolares.

Esta situação tenderá a agravar ainda mais a estrutura demográfica envelhecida do Concelho, com efeitos perversos no curto e médio prazo.

Para as regiões que sofrem duplamente destes efeitos negativos, o desafio é enorme, pois sem “estancar” a saída das pessoas, dos quadros qualificados, é difícil contrariar esta realidade.

Há que inverter esta situação, sob pena de, mais tarde, serem também os pais a ir ao encontro dos filhos.

São necessárias medidas criativas que favoreçam a fixação de casais jovens no concelho, ao nível da intervenção social, da habitação e do emprego qualificado.

As assimetrias de desenvolvimento interior/litoral e Portugal/média dos países mais desenvolvidos só poderão ser combatidas com êxito se os investimentos estratégicos, designadamente os do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN 2007-2013), forem efectivamente aplicados de forma mais selectiva do que até aqui tem acontecido…

A estratégia decidida em Lisboa em 2000 continua a ser fundamentalmente relevante. Contudo, importa rectificar o que correu mal e desenvolver as políticas e os projectos estratégicos mais conducentes ao cumprimento dos seus objectivos.

Também a nível local e regional nem sempre os fundos da União Europeia e Nacionais têm servido para construir as infra-estruturas que permitiriam desenvolver as regiões mais atrasadas. Há que alterar esta situação e canalizar parte significativa dos investimentos para projectos verdadeiramente indutores dum efectivo desenvolvimento sustentado.

Para tal, é preciso que se assuma, claramente, como grande desígnio estratégico, a qualificação dos seus cidadãos, valorizando o conhecimento, a cidadania, a inovação e o empreendedorismo, bem como a promoção de níveis elevados e sustentados de desenvolvimento económico, coesão social e qualidade de vida.

NOTA:
Sem investimentos adequados, sem pessoas cada vez mais qualificadas, sem massa crítica que nos diferentes domínios de participação económica, social, cultural e política possam fazer a diferença, não será possível obter os contributos para as mudanças qualitativas que se desejam.

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